Arquivo para maio \17\+00:00 2009

Você tem uma nova mensagem.

Oi, sou eu. Sei que você não tá em casa e foi por isso mesmo que liguei. A princípio eu só queria ouvir sua voz estúpida, mas eu pensei bem e percebi que precisava te falar que eu cansei. To cansada de vocês. Até dessa sua voz rouca e puta que pariu. Cansei. Não quero precisar que você fale comigo, porque eu preciso me sentir querida e admirada. Não quero que ele tenha que babar meu ovo e dizer que quer terminar com a namorada, mesmo que ele não diga que é pra ficar comigo – ele acaba dizendo de algum jeito que quer estar livre pra ficar comigo de algum outro jeito. Não quero que ele queira trair por minha causa. Não quero sentir a necessidade de que olhem pra mim e pra minha bunda e queiram me comer. Porque as mulheres reclamam disso? Toda mulher quer ser comida. Ou pelo menos quer que queiram comê-la. E fazem cara de nojo. Ridículo. Mas eu simplesmente não quero sentir isso, deu pra entender? Não vou fazer cara de nojo. Eu quero ser indiferente. Aliás, me peguei dando esse conselho: seja indiferente. Eu, presta bem atenção. A menos indiferente pra vida. Que respira carência. Eu não quero também precisar ouvir deles que eu sou foda. Porque assim eu posso me concentrar, quem sabe, em um dia ser foda. Porque eu não sei se você percebeu, mas não sou. Aliás, você é uma das pessoas que menos me percebe. E eu fico puta. O tempo passa, eu ainda não decidi se você mudou, mas tem certas coisas que nunca mudam. Pra mim e pra você. Você se finge de bom moço mas ta pouco se fudendo. E eu me reviro de raiva e faço todas as merdas do mundo. Não quero também me incomodar com ele. Eu não quero me entender, não quero conversar, não quero nada. É isso: nada. Nada de mágoa, nada de ressentimentos, nada de incômodo. Nada. Se ele vier, foda-se. Não me importo. Se não vier, foda-se. Nem vou perceber. E você aí, em algum lugar que não sei, com seus novos amigos e amigas piranhas. Todas elas, piranhas. Eu de alguma forma, sempre estou num outro patamar. E pode acreditar, não me sinto bem com isso. As vezes queria ser piranha também, ia ser mais fácil. Mas nem isso consigo. Sou sempre a diferente. A que não esquecem, a que tem alguma coisa que não sei o que é. Outro nível, baby. O que acontece? Eu tava indo tão bem. Essa fraqueza ridícula que eu odeio nas pessoas e não me permito ter. A culpa pode ser sua. Você sempre vai ter uma culpa na minha vida. Como você teve coragem? E como eu posso estar agindo tão naturalmente? Eu vou cobrar, pode apostar. Vou te botar na parede. Devia jogar a cerveja na sua cara. Levantar e sair andando. Vou estar preocupada com minha bunda nesse momento e sentindo que escolhi a roupa errada, mas pelo menos você vai estar com sua cara de merda como se eu fosse a louca. Louca eu? Você adorava dizer isso. Paranóica. Obcecada? Não me lembro. Mas beirava isso. E eu chorava e te pedia desculpas. Acabei de rir lembrando. Eu era a mais retardada. Você revertia a história de um jeito que me fazia pedir desculpas. Eu fico imaginando hoje como você reagia quando eu descia do seu carro. Será que sentia algum remorso? Você ria e contava pros seus amigos? Você se orgulhava porque era foda e conseguia me fazer acreditar em tudo de uma forma incrivelmente fácil? Em alguns momentos eu quase consegui. Ser a vaca perfeita e te pegar no pulo. Mas você era mais cavalo. Você estava sempre um passo a frente. Tinha tudo pronto. Naquele dia eu fui trabalhar em estado de choque. Achava que ia desabar a qualquer momento. Minha memória é uma merda, mas eu me lembro bem de como me senti naquela tarde. Lixo. E você, tão bonzinho, conseguiu fazer com que eu tirasse aquele cheiro nojento do corpo. Que besteira. Não seja assim, não acredite em tudo. Otária.
E lembra como você chorou? Eu senti tanta pena. Olha o que estou fazendo com ele. Porque você chorou? Você sentia mesmo alguma coisa? É uma das coisas que não entendo. Que você fizesse suas merdas e risse depois no carro eu até entendo. Faz todo o sentido. Mas chorar? Não seja fraco. Fique aliviado. Porque eu fiz o que você não tinha coragem. E essa merda de secretária ja desligou faz tempo.


O que tem aqui

Diálogos, monólogos, conversas, crônicas, histórias malucas e talvez, quem sabe, até reais, de uma cabeça bem esquisita.