Arquivo para janeiro \17\+00:00 2011

Pedacinhos

Com papel de cartas eu ficava perdida.
Ainda assim, consegui levar a sério e não consigo me lembrar bem como foi que consegui fazer uma pasta tão cheia e que tinha até algum tipo de organização. Mas era inútil, ninguém mandava cartinha em papel de carta. Eu não mandava. E também nunca recebi nenhuma.

Acho que começou assim.
Minha coleção de todas as coisas.
Não termino nenhuma delas, mas acho que a graça de toda coleção é nunca ter fim. Tenho uma que saiu do meu controle. Ganhei tanta contribuição que de repente eu tinha mais de 350 postais publicitários. Desisti.
Tenho uma que é bonita. De coisas de casamento, mesmo sem ter certeza de que quero casar. Coleciono tudo numa pasta de computador e em links salvos na internet. Tenho também uma coleção de uma coisa só. É uma vespa. E é a coleção que mais gosto.

Outro dia achei você. E comecei a colecionar seus pedaços.
Tenho um pedaço seu que abriu a porta do carro pra eu entrar. Um pedaço que eu adoro cantou vinícius bem baixinho. Outro pedaço me fez um desenho. E tem também um que me ligou de novo e de novo só pra saber se estava mesmo tudo bem (depois de alguma coisa que eu já esqueci porque não guardei nenhum pedaço).

Tem uns pedaços meio tortos, desses que a gente guarda e não sabe nem pra quê, mas nunca consegue se desfazer porque parece que os pedaços bons fazem mais sentidos se esses estiverem junto. Como aquele que tem sua cara de mau, ou o que tem uma conversa inteira que quase virou uma discussão. Gosto dele. Até os pedaços em que você se hipnotiza por uma televisão qualquer que está ligada em algum lugar. Esses ficam no fundo, pra eu não ficar nervosa.

Tem um pedaço grande cheio de outros pedacinhos. É tipo um mosaico. Banho gelado, vento na janela, praia, música boa, um crédito infinito de massagens, muita escadaria e bateção de perna. Como todo mosaico, ele não faz sentido. E é por isso mesmo que essa coleção é tão boa: ela não faz sentido algum.

Quando penso no que pode acontecer, lembro sempre.
Não posso colecionar você.
Mas esses pedacinhos são meus.


O que tem aqui

Diálogos, monólogos, conversas, crônicas, histórias malucas e talvez, quem sabe, até reais, de uma cabeça bem esquisita.